Relações entre os seres vivos

Os seres vivos interagem uns com os outros de diversas formas, estabelecendo relações que podem ser benéficas, prejudiciais ou neutras para ambos. Essas interações são fundamentais para a manutenção do equilíbrio ecológico e para a sobrevivência das espécies. Existem diferentes tipos de relações entre os seres vivos, que podem ser classificadas em três categorias principais: intraespecíficas, interespecíficas harmônicas e interespecíficas desarmônicas. As relações intraespecíficas ocorrem entre indivíduos da mesma espécie, enquanto as interespecíficas acontecem entre indivíduos de espécies diferentes. As relações harmônicas são aquelas em que ambas as espécies se beneficiam, enquanto as desarmônicas são aquelas em que uma espécie é prejudicada 

Tipos de relações entre seres vivos

Em uma comunidade, existem várias relações entre os seres vivos, que são conhecidas como interações ou associações. Essas relações podem ocorrer tanto entre indivíduos da mesma espécie, chamadas de relações intraespecíficas, quanto entre indivíduos de espécies diferentes, conhecidas como relações interespecíficas.

Em alguns casos, as relações são benéficas para ambos os participantes, aumentando suas chances de sobrevivência e reprodução. Em outros casos, um participante é beneficiado, enquanto o outro sofre algum prejuízo, como diminuição das chances de sobrevivência e reprodução. Há também casos em que não há benefício ou prejuízo para nenhum dos envolvidos na relação.

As relações desarmônicas ocorrem quando há prejuízo para um dos participantes, enquanto as relações harmônicas não causam prejuízo para nenhum dos associados. Esses efeitos são frequentemente representados por sinais: “+” quando há benefício, “–” quando há prejuízo e “0” quando não há benefício nem prejuízo. Por exemplo, a interação entre parasita e hospedeiro é representada por “+ –”, já que o parasita é beneficiado e o hospedeiro prejudicado.

As relações entre os seres vivos podem ter impactos significativos no equilíbrio ecológico e na sobrevivência das espécies. É fundamental compreender como essas relações funcionam e como os diferentes fatores podem afetá-las.

Sociedades

Existem muitos exemplos de indivíduos da mesma espécie que se agrupam em determinado momento para obter vantagens. Por exemplo, muitas aves se reúnem em locais de reprodução, o que facilita o encontro de machos e fêmeas e a proteção da prole. Esses agrupamentos instáveis são chamados de reuniões ou bandos e podem se desfazer quando as condições que os favoreceram deixam de existir.

As vantagens da vida em grupo são ainda maiores quando os animais permanecem unidos de forma permanente, em agrupamentos chamados de sociedades, caracterizados pela divisão do trabalho e cooperação entre seus membros. Essas sociedades são encontradas em alguns grupos de insetos, como as formigas, cupins e várias espécies de abelhas e vespas, além dos castores, gorilas e seres humanos.

Nos insetos sociais, a divisão do trabalho é tão grande que o corpo dos indivíduos está modificado e adaptado de acordo com as funções que realizam. O resultado dessa extrema especialização é a existência, na mesma espécie, de grupos de indivíduos com características diferentes, fenômeno chamado de polimorfismo morfológico sendo que cada grupo diferente forma uma casta. A seguir, apresentamos alguns exemplos de sociedades.


Sociedade das abelhas

As abelhas são animais incríveis que formam sociedades altamente organizadas, onde cada indivíduo trabalha em prol da sobrevivência da colmeia. As operárias são as fêmeas estéreis encarregadas de realizar todo o trabalho da colmeia, como coletar pólen, néctar, produzir cera e alimentar as larvas. Elas vivem cerca de um mês e possuem patas e aparelho bucal especializados para a coleta de alimentos. Além disso, são responsáveis pela conservação e limpeza da colmeia.

A rainha é a única fêmea fértil da colmeia e sua única função é botar ovos. Ela pode viver de cinco a dez anos e colocar cerca de mil ovos por dia. Durante o voo nupcial, ela é fecundada por um ou mais zangões, os machos, e armazena milhões de espermatozoides vivos por alguns anos em seu sistema reprodutor. Os ovos fecundados dão origem a larvas femininas, enquanto os não fecundados resultam em zangões por meio de partenogênese.

As larvas são alimentadas pelas operárias com geleia real durante os primeiros dois dias, e as que se desenvolverão em operárias e zangões passam a ser alimentadas com mel e pólen. Já as que se desenvolverão em rainhas continuam a receber geleia real. Quando a sociedade se torna grande demais, a rainha e parte das operárias abandonam a colmeia e fundam uma nova sociedade, deixando larvas para criar uma nova rainha na colmeia original. Esse ato é conhecido como enxameamento.

Cada colmeia de abelhas é uma sociedade altamente organizada, onde cada indivíduo tem um papel específico e trabalha em conjunto para garantir a sobrevivência da colmeia. As abelhas são fundamentais para a polinização das plantas e para a produção de mel, sendo essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas.

Sociedade das formigas

As formigas são insetos sociais extremamente organizados, capazes de formar colônias altamente estruturadas, com uma divisão clara de trabalho entre as castas de indivíduos que as compõem. Entre as espécies de formigas, destaca-se o gênero Atta, que inclui as saúvas, que formam sociedades complexas, com milhares de indivíduos.

A sociedade de formigas saúvas é composta por diferentes castas de indivíduos, cada um com uma função específica. As fêmeas férteis, conhecidas como rainhas ou içás, são as responsáveis por fundar novos formigueiros e perpetuar a colônia, botando ovos e gerando novas gerações de formigas. Pode haver mais de uma rainha por formigueiro, o que aumenta a chance de sobrevivência da colônia.

Os machos férteis, conhecidos como reis ou bitus, têm como única função fecundar as rainhas durante o voo nupcial e, em seguida, morrem. As operárias estéreis são as responsáveis pela manutenção e defesa da colônia, coletando alimentos e protegendo-a de predadores e invasores. Elas também cuidam dos ovos e das larvas, alimentando-os e mantendo o formigueiro limpo.

Uma das características mais marcantes das formigas saúvas é a sua relação simbiótica com um fungo, que serve como fonte de alimento para a colônia. As operárias coletam folhas e as levam para o formigueiro, onde o fungo as transforma em uma substância nutritiva que é consumida pelas formigas. As formigas saúvas têm uma capacidade notável de cultivar e proteger o seu fungo, evitando a contaminação por outras espécies de fungos que poderiam prejudicar a colônia.

As formigas saúvas também são capazes de realizar a construção e a manutenção de seus ninhos de forma extremamente eficiente. Elas cavam túneis e câmaras subterrâneas, onde a colônia se abriga e protege seus ovos e larvas. Além disso, elas são capazes de construir torres e pontes vivas, formadas por seus próprios corpos, para atravessar obstáculos e alcançar novas fontes de alimento.

Em suma, as formigas saúvas são um exemplo notável de uma sociedade altamente organizada, com uma divisão clara de trabalho e uma cooperação mútua que permite a sobrevivência e o crescimento da colônia. Sua capacidade de cultivar e proteger um fungo, construir e manter ninhos e trabalhar em conjunto para coletar e defender alimentos é um modelo de cooperação e organização que tem sido estudado e admirado pelos cientistas há décadas.

Sociedades de cupins

Os cupins são conhecidos por formarem sociedades altamente organizadas, assim como as formigas e as abelhas. Na sociedade de cupins, os operários são formados por machos e fêmeas estéreis, e são responsáveis por coletar alimento, construir e manter o ninho. Já os soldados, também formados por machos e fêmeas estéreis, possuem pernas e mandíbulas muito fortes e são encarregados de defender a sociedade.

Assim como outras espécies sociais de insetos, os cupins também possuem um momento em que ocorre o voo nupcial. Nessa época, machos e fêmeas alados, conhecidos como siriris ou aleluias, formam nuvens ao redor de fontes de luz. Entretanto, a cópula só ocorre no solo, depois que ambos perdem as asas.

Uma característica única na reprodução dos cupins é que, ao contrário dos machos de formiga e abelhas, os machos de cupim permanecem com a rainha na câmara nupcial, uma cavidade feita na madeira pelo casal. O macho fecunda a rainha periodicamente, e ela pode botar milhares de ovos por dia. O abdome da rainha aumenta centenas de vezes para acomodar os ovos em desenvolvimento.

Os cupins são conhecidos por serem importantes decompositores de matéria orgânica, contribuindo para o equilíbrio ecológico. No entanto, também são considerados pragas em áreas urbanas e rurais, causando danos em estruturas de madeira, móveis e plantações. Por isso, é importante manter medidas de controle e prevenção contra infestações de cupins

Cooperação em sociedades de mamíferos

A cooperação entre mamíferos selvagens é um comportamento que pode ser observado em muitas espécies diferentes. Além do compartilhamento de alimentos e dos gritos de alarme em caso de predadores, muitas espécies cooperam em tarefas como caçar e cuidar dos filhotes. Um exemplo é o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), que caça em grupos, trabalhando em conjunto para derrubar presas maiores, como veados e capivaras. Já o suricato (Suricata suricatta) vive em grupos familiares, onde cada membro tem uma função específica: alguns cuidam dos filhotes, enquanto outros saem em busca de alimentos ou ficam de guarda para proteger o grupo de predadores.

Além disso, a cooperação entre mamíferos também pode ser vista em espécies que vivem em ambientes extremos, como os pinguins-imperadores (Aptenodytes forsteri) que vivem na Antártica. Durante o inverno rigoroso, os pinguins se reúnem em grandes grupos para se manter aquecidos e sobreviver às condições adversas. Eles se revezam no centro do grupo para se protegerem dos ventos frios e, ao mesmo tempo, garantir que todos tenham acesso ao calor corporal gerado pela comunidade.

Esses exemplos mostram como a cooperação pode ser fundamental para a sobrevivência das espécies em seus habitats naturais, permitindo que os animais superem desafios e prosperem em um ambiente selvagem e muitas vezes hostil.

Colônias

A formação de colônias é uma maneira pela qual os organismos podem obter as vantagens da vida em grupo, com uma união anatômica de indivíduos. Existem dois tipos de colônias: as homotípicas e as heterotípicas. As colônias homotípicas não apresentam diferenças morfológicas entre seus membros e nem divisão de trabalho. Protozoários, algas e corais são exemplos de organismos que formam colônias homeomorfas. Por outro lado, as colônias heterotípicas possuem diferenciação e divisão de trabalho entre os indivíduos. Um exemplo é a caravela-portuguesa (Physalia physalis), um cnidário cuja colônia é formada por indivíduos com formas e funções diferentes, como reprodução, nutrição, defesa e ataque. Todos os indivíduos estão interligados e suspensos na água por uma bolsa de gás (pneumatóforo). 

Mutualismo

O termo mutualismo pode ter um sentido amplo, referindo-se a qualquer associação em que organismos de espécies diferentes se beneficiem mutuamente. No entanto, ele também é usado em um sentido mais restrito para descrever casos em que há uma grande interdependência entre os organismos associados, envolvendo trocas de alimentos e produtos metabólicos com benefícios mútuos. Essa dependência é tão forte que a vida separada se torna impossível. Esses casos são referidos como mutualismo obrigatório ou simbiose mutualística. Quando a dependência é menor e os organismos podem sobreviver isoladamente, a associação é chamada de mutualismo facultativo, cooperação ou protocooperação.

O termo simbiose é usado para descrever qualquer associação permanente entre organismos de espécies diferentes.

Cupim e protozoários

O cupim é um inseto que se alimenta de madeira, porém não é capaz de produzir a enzima necessária para digerir a celulose, o principal componente da madeira. Para suprir essa deficiência, o cupim tem uma relação simbiótica com protozoários que vivem em seu intestino e são capazes de quebrar a celulose em glicose por meio de fermentação, obtendo assim a energia necessária para suas funções. Como resultado da fermentação, é produzido ácido acético, que é oxidado pelo cupim e utilizado como fonte de energia. Essa relação de simbiose também é encontrada em mamíferos ruminantes, como o boi e a cabra, que abrigam bactérias em seu tubo digestório para ajudar na digestão de celulose e outros componentes vegetais.

Leguminosa e bactérias

Como aprendemos no ciclo do nitrogênio, determinadas bactérias vivem em simbiose com as raízes de plantas leguminosas, fornecendo-lhes nitrogênio que será utilizado na produção de proteínas. Em troca, as leguminosas fornecem nutrientes para as bactérias. Essa relação simbiótica é chamada de bacteriorriza.

A simbiose entre as bactérias e as células das raízes de leguminosas é tão especializada que envolve a produção de uma proteína exclusiva, a leghemoglobina. Essa proteína tem a função de se ligar ao oxigênio presente nas células da planta, evitando que ele atinja as bactérias que realizam a fixação do nitrogênio. O excesso de oxigênio poderia destruir a enzima nitrogenase, que é fundamental para a fixação do nitrogênio atmosférico pelas bactérias.

A presença das bactérias na raiz das leguminosas também é responsável pela formação de nódulos, que são estruturas esféricas presentes nas raízes das plantas. Esses nódulos são formados a partir da divisão celular das células da raiz e são o local de fixação do nitrogênio pelas bactérias simbióticas. A presença desses nódulos nas raízes das leguminosas é uma característica importante dessas plantas, pois permite que elas cresçam em solos pobres em nitrogênio.

Liquen

A relação simbiótica entre fungos e algas clorofíceas ou cianobactérias é tão íntima que ambos formam um novo organismo, chamado líquen. Nessa associação, a alga é autotrófica e fornece parte da matéria orgânica produzida ao fungo, enquanto recebe proteção, umidade e sais minerais. Combinadas, as funções da alga e do fungo permitem que o líquen se adapte a diferentes ambientes, como troncos de árvores, pedras, montanhas e até gelo. Embora sejam resistentes, os líquens são altamente sensíveis à poluição do ar e funcionam como indicadores desse tipo de poluição. Em locais poluídos, a maioria dos líquens desaparece porque não possui cutícula e outras estruturas que atuam como filtros da poluição. Embora processos físicos e químicos também possam ser usados para medir a poluição do ar, os equipamentos utilizados nesses casos podem ser mais caros.

Micorriza

Outro caso de mutualismo, chamado micorriza, ocorre entre plantas e certos fungos que crescem na superfície e no córtex das raízes delas. A micorriza é uma associação simbiótica entre a raiz de uma planta e o micélio de um fungo, onde ambos os organismos se beneficiam mutuamente. O fungo facilita a absorção de sais minerais do solo, principalmente fosfato, que é essencial para o crescimento das plantas. Em troca, a planta compartilha produtos orgânicos resultantes da fotossíntese, como carboidratos, com o fungo.

Existem dois tipos principais de micorrizas: ectomicorrizas e endomicorrizas. As ectomicorrizas formam uma bainha ao redor da raiz e do córtex das plantas hospedeiras, enquanto as endomicorrizas penetram nas células das raízes e formam uma estrutura chamada arbuscular. A maioria das plantas possui micorrizas, e essas associações são particularmente importantes em solos pobres em nutrientes. Uma prova dessa associação é que certas plantas não crescem - ou crescem mal - quando o fungo não está presente. A micorriza é considerada uma das associações simbióticas mais importantes para a sobrevivência e crescimento de muitas plantas.

Protocooperação

Em muitos casos de associações mutualísticas, os indivíduos de espécies diferentes obtêm benefícios mútuos sem que haja dependência entre eles. Essa forma de mutualismo é chamada de protocooperação, cooperação ou mutualismo facultativo. Nesses casos, os organismos podem sobreviver isoladamente, mas obtêm vantagens quando estão juntos.

Um exemplo de protocooperação é a relação entre abelhas e flores. As abelhas se alimentam do néctar das flores e, ao visitá-las em busca de alimento, polinizam as plantas, permitindo a reprodução e a formação de frutos. Outro exemplo é a associação entre o peixe-palhaço e as anêmonas-do-mar. O peixe-palhaço se abriga entre os tentáculos venenosos da anêmona e ajuda a afugentar predadores, enquanto a anêmona se beneficia da limpeza feita pelo peixe.

Alguns cientistas usam o termo mutualismo em sentido amplo para incluir qualquer associação em que os dois organismos sejam beneficiados, mesmo que não haja dependência mútua. No entanto, a distinção entre mutualismo obrigatório e facultativo é útil para entender as diferentes formas de interação entre espécies na natureza

Paguro e anêmona

O paguro, um caranguejo conhecido também como bernardo-eremita, é capaz de proteger seu abdômen longo e desprovido de carapaça ao viver dentro de conchas vazias. Para aumentar ainda mais sua proteção, ele coloca uma ou mais anêmonas sobre a concha. Essas anêmonas possuem células urticantes que afugentam possíveis predadores, proporcionando ao paguro uma proteção extra. Além disso, as anêmonas se beneficiam dessa associação, já que têm seu campo de alimentação ampliado quando o paguro se locomove e leva a concha. Elas também podem se alimentar dos restos de alimentos do paguro. 

Aves e mamíferos

Algumas aves obtêm seu alimento removendo carrapatos e outros parasitas que se alojam no dorso de alguns mamíferos, como bovinos, búfalos e rinocerontes, entre outros. Além de se beneficiarem com a alimentação, essas aves também ajudam a alertar sobre possíveis perigos na região através de seus gritos e movimentos. 

Peixe palhaço e anêmona

Ao viver entre os tentáculos da anêmona, o peixe-palhaço é protegido pelo veneno destes tentáculos devido à sua pele que possui uma proteção especial. Enquanto isso, a anêmona se beneficia ao se alimentar dos restos de comida deixados pelo peixe-palhaço. 

Formiga e pulgão

Os pulgões se alimentam da seiva das árvores e excretam um líquido açucarado que é consumido pelas formigas. Em troca, as formigas protegem os pulgões de seus inimigos naturais, como a joaninha. Essa relação é conhecida como sinfilia, uma forma de protocooperação entre o pulgão e a sociedade das formigas. 

Comensalismo

Comensalismo é a interação entre duas espécies em que apenas uma se beneficia sem causar prejuízo para a outra.

O benefício pode ser alimentar, quando uma espécie utiliza os restos alimentares da outra (comensal é cada um dos que comem à mesma mesa). Pode ocorrer também o transporte de uma espécie por outra, o que recebe o nome de foresia ou forésia.

Além disso, pode ocorrer quando uma espécie utiliza outra como abrigo, como no caso do inquilinismo, ou como suporte para fixação de uma planta ou de um animal o epizoísmo.

Rêmora e outros peixes

A rêmora, também conhecida como peixe-piolho, estabelece uma relação com outros peixes, como o tubarão, por meio de uma nadadeira dorsal transformada em ventosa de fixação. Isso permite que ela obtenha restos de comida e um eficiente meio de transporte. Além da rêmora, outros seres que estabelecem esse tipo de relação incluem o peixe-piloto, que acompanha tubarões e aproveita os restos alimentares desses predadores. 

Peixei-agulha e pepino-do-mar

Os animais aquáticos, como as esponjas e as colônias de corais, oferecem abrigo para diversos outros seres, chamados inquilinos. Esses inquilinos não prejudicam de nenhum modo o animal que os abriga e até mesmo têm hábitos alimentares diferentes. Um exemplo é o pepino-do-mar, um equinodermo, que abriga em seu interior o peixe-agulha, ou fierásfer, como refúgio. 

Epífitas e árvores

As plantas de pequeno porte que competem pela energia luminosa são favorecidas ao viverem sobre árvores, permitindo que elas tenham uma posição privilegiada para captar a luz solar. Essa interação é conhecida como epifitismo, e as plantas que usam outras como suporte são chamadas epífitas, tais como orquídeas e bromélias. É importante notar que as epífitas não são parasitas, como o cipó-chumbo, já que não retiram nutrientes das árvores em que se encontram. 

Competição intraespecífica

Os seres vivos competem por nutrientes e energia, e essa competição ocorre de diferentes maneiras entre as plantas e os animais. Os vegetais competem principalmente por luz, água e sais minerais, enquanto os animais lutam por uma variedade de recursos, como matéria orgânica (alimento), espaço vital e parceiros para reprodução.

A competição pode trazer prejuízos para todos os indivíduos envolvidos, uma vez que mesmo o vencedor terá investido tempo e energia para competir, recursos que poderiam ter sido utilizados para garantir a sua sobrevivência e reprodução. No caso da competição intraespecífica, que ocorre entre indivíduos da mesma espécie, ela é um dos fatores que controla o tamanho das populações, pois pode resultar em mortes ou afetar a reprodução de alguns indivíduos.

A fim de evitar a competição, muitos animais estabelecem, pelo menos durante a época de reprodução, uma região ou território onde não permitem a entrada de estranhos. Esses territórios podem ser demarcados de várias maneiras, por exemplo, a urina e as fezes de lobos e coelhos possuem substâncias com cheiro característico para demarcar o seu território.

Competição interespecíficas

Em 1934, o cientista russo G. F. Gause (1910-1986) realizou um estudo sobre o efeito da competição interespecífica em duas espécies do protozoário Paramecium aurelia (de 40 µm a 130 µm de comprimento) e Paramecium caudatum (menos de 0,25 µm de comprimento). Em condições ideais, criados separadamente, esses protozoários crescem até um nível que equivale ao limite da capacidade de suporte do ambiente. No experimento de Gause, as duas espécies foram cultivadas juntas e a P. caudatum, apesar de ser menor, teve seu crescimento reduzido até a extinção, enquanto a P. aurelia continuou a crescer até se estabilizar.

Gause concluiu que duas espécies que competem pelos mesmos recursos não podem coexistir indefinidamente no mesmo hábitat. Uma delas é mais eficiente na conquista desses recursos e tem maior sucesso reprodutivo, enquanto a outra é eliminada pela competição. Essa conclusão ficou conhecida como princípio da exclusão competitiva ou de Gause. Em outras palavras, duas espécies não podem conviver no mesmo hábitat e com o mesmo nicho indefinidamente, pois a competição será tão grande que apenas uma, a mais adaptada, sobreviverá, enquanto a outra é eliminada ou emigra para outro habitat ou passa a ocupar outro nicho.

No entanto, se duas espécies coexistem no mesmo local, é provável que haja alguma diferenciação de nichos ecológicos, o que diminui a intensidade da competição. Por exemplo, espécies diferentes de um pássaro do gênero Dendroica se alimentam de insetos na mesma árvore, mas cada uma fica em determinada altura da árvore, o que caracteriza nichos distintos. Isso é suficiente para evitar a competição direta. Além disso, sua alimentação é mais intensa nos períodos de construção dos ninhos, que também são diferentes de uma espécie para outra.

Pedantismo e herbivoria

Predação é uma relação ecológica em que um organismo mata outro para se alimentar. Esse fenômeno é bastante comum na natureza, como no caso dos mamíferos carnívoros e herbívoros. A herbivoria, por sua vez, é uma relação semelhante à predação, mas ocorre entre um animal herbívoro e as plantas das quais se alimenta. Alguns autores consideram a herbivoria como um tipo de predação.

Na seleção natural, tanto os predadores mais eficientes quanto as presas e plantas com defesas contra a predação e a herbivoria são favorecidos. Predadores geralmente não escolhem suas presas ao acaso e podem atuar como fatores de seleção natural. Por exemplo, um guepardo capturará os antílopes menos velozes, e os guepardos menos velozes terão mais dificuldade em obter alimento e, portanto, mais chance de morrer de fome.

Para aumentar suas chances de sobrevivência, tanto as presas quanto os predadores desenvolveram artifícios especiais, como camuflagem, coloração de advertência e mimetismo. Esses mecanismos são importantes para a sobrevivência dos organismos em seus habitats naturais e merecem ser estudados com mais detalhes.

Camuflagem

O processo de camuflagem é um artifício usado por animais para se confundir com o ambiente em que vivem, seja na cor ou no aspecto, tornando-se menos visíveis para seus predadores ou presas. Enquanto para a presa, a camuflagem funciona como uma defesa, ajudando-a a se esconder do predador, para o predador, serve para facilitar sua aproximação até que possa atacar. Na natureza, há inúmeros exemplos de camuflagem, como o urso-polar que se confunde com a neve, o leão que se mistura com o capim seco e os pássaros verdes que se confundem com a vegetação. Nos insetos, a camuflagem atinge um alto grau de aperfeiçoamento, sendo possível ver imitações impressionantes de folhas, galhos de árvores, espinhos e outros elementos. O urutau (Nyctibius griseus) é uma ave encontrada no Pantanal Mato-Grossense que usa a camuflagem para dormir na extremidade de uma árvore e se camuflar adequadamente com o ambiente.

Coloração de advertência

Outra estratégia utilizada por algumas presas para se defenderem é a coloração de advertência, também conhecida como aposematismo. Nesse tipo de defesa, a presa possui uma cor ou aspecto que sinaliza para o predador que ela possui defesas contra ele, como um gosto ruim, secreções irritantes ou veneno. A coloração de advertência permite que os predadores aprendam a evitar esses animais e, assim, aumentem as suas chances de sobrevivência. Algumas espécies que apresentam coloração de advertência incluem abelhas, vespas, sapos e borboletas. 

Mimetismo

Ocorre quando animais de uma espécie se assemelham aos de outra espécie que são venenosos, não palatáveis ou perigosos para o predador. Esse tipo de defesa evolutiva é conhecido como mimetismo batesiano, em homenagem ao naturalista inglês Henry Bates, que o descobriu. As borboletas, por exemplo, podem apresentar a forma ou a cor daquelas que têm essas defesas, mesmo sem ter essas características. O objetivo é enganar o predador que já teve experiências desagradáveis com o animal mimetizado e aprendeu a evitá-lo.

Outro tipo de mimetismo ocorre quando várias espécies, todas protegidas contra predadores por alguma defesa, como veneno ou gosto ruim, evoluem e passam a apresentar a mesma aparência. Esse fenômeno é conhecido como mimetismo mülleriano e foi descrito pelo zoólogo alemão Fritz Müller. Diferente do mimetismo batesiano, nesse caso, várias espécies se beneficiam da experiência desagradável que o predador teve com outra espécie. O mimetismo acontece por meio de um processo evolutivo, em que um animal inofensivo, por mutação, passa a assemelhar-se a outro que provoca danos ao predador (animal-modelo) e, assim, ganha uma vantagem seletiva e aumenta de número na população.

Parasitismo

Os parasitas são organismos que se instalam no corpo de outros seres para extrair alimento. O termo "parasita" vem do grego "para", que significa "ao lado", e "sitos", que significa "alimento". O organismo do qual o parasita extrai alimento é chamado de hospedeiro. Embora não causem a morte imediata do hospedeiro, os parasitas enfraquecem e prejudicam suas funções orgânicas, sendo responsáveis por diversas doenças.

Os parasitas podem ser encontrados em uma ampla variedade de grupos de organismos, como vírus, bactérias, protozoários, fungos, vermes, insetos e até mesmo alguns vegetais. Um exemplo de planta parasita é o cipó-chumbo, que não possui clorofila e retira as substâncias orgânicas de outras plantas. Já a erva-de-passarinho é uma planta clorofilada, mas precisa obter água e sais minerais de outros vegetais para realizar a fotossíntese. Por isso, ela é considerada uma hemiparasita, enquanto o cipó-chumbo é classificado como holoparasita.