Vitaminas

Ao longo da História, foram levantadas suspeitas de que a deficiência de certos alimentos poderia ser responsável por diversas doenças. Exemplos remontam a mais de 2 mil anos, quando Hipócrates (460-377 a.C.) recomendava o consumo de fígado para tratar a cegueira noturna, uma condição que dificultava a visão em ambientes com pouca iluminação.

No século XIX, os sintomas do beribéri eram conhecidos, embora sua causa ainda fosse um mistério. Somente em 1885, o médico japonês Baron Takaki Kanehiro (1849-1920) observou uma ligação entre a doença e a alimentação dos tripulantes de navios, que se baseava principalmente em arroz branco. Porém, aqueles que consumiam carne e verduras não apresentavam os mesmos sintomas.

Em 1897, o médico holandês Christiaan Eijkman (1858-1930) percebeu que as galinhas do hospital em que trabalhava, localizado em Jacarta (Indonésia), apresentavam sintomas semelhantes aos dos doentes de beribéri. Ele notou que as aves eram alimentadas com restos de arroz polido ou descascado. Para investigar o fenômeno, Eijkman selecionou um grupo de galinhas e começou a alimentá-las com a película retirada dos grãos de arroz. Após algum tempo, ele constatou que as aves estavam curadas.

Posteriormente, o químico polonês Casimir Funk (1884-1967) descobriu que a película do arroz continha um nutriente capaz de prevenir o beribéri. Ele nomeou essa substância de "vitamina", derivando o termo de "vital" devido à importância dessa substância para a saúde humana. A molécula da vitamina também possuía um grupamento de átomos com nitrogênio, conhecido na Química Orgânica como "amina". A vitamina específica descoberta por Funk foi chamada de tiamina ou vitamina B1.

Essa história ilustra como o progresso do conhecimento científico depende da colaboração entre diversos cientistas, mesmo de áreas diferentes, como Química e Medicina. A compreensão das vitaminas e suas funções tem sido fundamental para entender as relações entre alimentação e saúde, bem como para o desenvolvimento de abordagens preventivas e terapêuticas. Neste contexto, este artigo explora as vitaminas e suas múltiplas funções no organismo humano.

Características gerais das vitaminas

As vitaminas são nutrientes essenciais que desempenham um papel crucial no funcionamento adequado do nosso corpo. Embora sejam necessárias em pequenas quantidades, essas substâncias atuam como reguladores, controlando diversas atividades celulares e funções do organismo. Elas trabalham em conjunto com enzimas e não são consumidas durante as reações químicas do metabolismo, o que explica a necessidade de quantidades reduzidas.

As vitaminas não são produzidas pelo nosso organismo e, portanto, precisam ser adquiridas por meio da alimentação. No entanto, não existe um alimento que forneça todas as vitaminas necessárias em quantidades adequadas, tornando essencial seguir uma dieta variada e equilibrada. É recomendado incluir leite ou derivados, legumes, cereais, verduras, frutas e carnes ou substitutos alimentares na alimentação diária.

É importante destacar que muitas vitaminas são sensíveis à luz, calor e água, podendo se perder durante processos de industrialização ou preparo dos alimentos. Para minimizar essa perda, é recomendado consumir vegetais frescos, crus ou cozidos por um curto período de tempo e com pouca água.

A falta ou deficiência de uma determinada vitamina é chamada de avitaminose e pode ocorrer devido à ingestão insuficiente de alimentos que a contenham, bem como devido a problemas de saúde. Inicialmente, as vitaminas foram identificadas com letras do alfabeto, mas, à medida que suas fórmulas químicas foram descobertas, passaram a receber nomes que refletem sua natureza química.

Atualmente, as vitaminas são classificadas em dois grupos principais: lipossolúveis e hidrossolúveis. As vitaminas lipossolúveis, como A, D, E e K, dissolvem-se bem em gordura e são encontradas em alimentos como leite, queijo, gema de ovo, carne e fígado de animais. Essas vitaminas podem ser armazenadas no fígado por um período prolongado, mas o consumo excessivo delas pode causar problemas em órgãos como o fígado.

Por outro lado, as vitaminas hidrossolúveis, como C e as do complexo B (B1, B2, B6, B12, niacina, ácido fólico, biotina e ácido pantotênico), dissolvem-se bem em água e são encontradas principalmente em vegetais (com exceção da B12, que é praticamente exclusiva de alimentos de origem animal). Nosso corpo armazena quantidades limitadas dessas vitaminas, eliminando o excesso pela urina. Portanto, é necessário consumir essas vitaminas regularmente, embora não necessariamente todos os dias. O consumo excessivo de vitaminas hidrossolúveis também pode apresentar riscos, mas devido à sua eliminação pelo organismo, o perigo é menor.

Vitaminas lipossolúveis

As vitaminas lipossolúveis desempenham papéis importantes no nosso organismo. A vitamina A, também conhecida como retinol, desempenha um papel essencial na formação da rodopsina, uma substância presente na retina responsável pela visão. A falta de vitamina A pode levar a dificuldades de enxergar em ambientes com pouca iluminação, resultando em cegueira noturna. Além disso, essa vitamina é essencial para manter a saúde dos tecidos epiteliais, que revestem o corpo e as cavidades. A deficiência de vitamina A pode levar à pele áspera e seca, tornando o organismo mais suscetível a infecções. A xeroftalmia é uma complicação grave causada pela deficiência de vitamina A, na qual a córnea se torna seca e lesões podem levar à cegueira permanente. Milhões de crianças no mundo sofrem com essa deficiência em suas dietas.

A vitamina A é encontrada em alimentos como gema de ovo, laticínios, margarina, fígado e rins. Ela também pode ser produzida no fígado a partir do beta-caroteno, uma substância precursora da vitamina A encontrada em vegetais de folhas verdes escuras e vegetais de cores amarelas ou alaranjadas, como cenoura, abóbora, batata-doce, brócolis, espinafre, couve, agrião, caqui, pêssego, mamão e manga.

A vitamina D é responsável pela facilitação da absorção de cálcio e fósforo no intestino, assim como pelo depósito desses minerais nos ossos. A falta de vitamina D pode causar alterações e deformidades no esqueleto em crianças, resultando em raquitismo, enquanto em adultos pode levar à fraqueza óssea, conhecida como osteomalacia. A vitamina D pode ser encontrada em alimentos gordurosos, como gema de ovo, fígado, peixes como atum e sardinha, e leite. Além disso, também é produzida na pele através da exposição aos raios ultravioleta do sol. É importante que as crianças recebam exposição solar regular, mas com moderação, evitando os horários entre 10h e 16h e utilizando protetor solar.

A vitamina E, composta por vários compostos conhecidos como tocoferóis, é encontrada em diversos alimentos, como óleos vegetais, cereais, leguminosas, laticínios, gema de ovo e hortaliças de folhas verdes. A deficiência de vitamina E é rara, mas quando ocorre, pode resultar em danos nos glóbulos vermelhos, anemia, além de lesões musculares e nervosas.

A vitamina K, composta por um grupo de substâncias conhecidas como quinonas, é encontrada em alimentos como folhas verdes, batata, gema de ovo, óleo de soja, tomate, fígado e leite. Além disso, ela é produzida por bactérias presentes no intestino grosso. A vitamina K desempenha um papel essencial na coagulação sanguínea e sua deficiência pode dificultar o estancamento de hemorragias.

Vitaminas hidrossolúveis

As vitaminas hidrossolúveis desempenham papéis essenciais no organismo e são solúveis em água. Elas incluem o complexo B (B1, B2, B6, B12, niacina, ácido fólico, entre outras) e a vitamina C.

As vitaminas do complexo B desempenham um papel crucial em várias reações químicas do corpo, especialmente no processo de respiração celular, responsável pela produção de energia. A deficiência dessas vitaminas pode ter consequências graves no sistema nervoso. A falta de vitamina B1 (tiamina) pode levar à inflamação dos nervos, paralisia e atrofia muscular, caracterizando a doença conhecida como beribéri. Alimentos como feijão, soja, ervilha, carne, gema de ovo, pinhão e cereais integrais ou enriquecidos são boas fontes dessa vitamina.

A deficiência de vitamina B2 (riboflavina) e vitamina B6 (piridoxina) também pode causar lesões no sistema nervoso, rachaduras no canto da boca, vermelhidão na língua, inflamação nos olhos e problemas de pele. Essas vitaminas podem ser encontradas em alimentos como carne, fígado, miúdos, hortaliças de folhas (couve, agrião, espinafre), ovos, leite e cereais integrais ou enriquecidos.

A falta de niacina (ou nicotinamida) pode resultar em diarreia, fraqueza, lesões na pele e no sistema nervoso, além de distúrbios mentais, caracterizando a pelagra. Alimentos como fígado, carnes, peixe, feijão, amendoim, pinhão, couve, café e cereais integrais ou enriquecidos são fontes dessa vitamina.

A vitamina B12 e o ácido fólico (também conhecido como folato ou vitamina B9) são importantes para a renovação das células do corpo. A falta dessas vitaminas pode causar anemia perniciosa. O ácido fólico está presente em quase todos os alimentos, principalmente em vegetais de folhas, fígado, ovos, feijão e frutas. Suplementos de ácido fólico são recomendados para mulheres que desejam engravidar e durante a gravidez para prevenir malformações no cérebro e na medula do feto. A vitamina B12 é encontrada principalmente em alimentos de origem animal, como fígado, miúdos, ovos, carne, queijo e frutos do mar.

A vitamina C, também conhecida como ácido ascórbico, desempenha um papel fundamental na manutenção dos tecidos conjuntivos, incluindo a derme, ossos e cartilagens. Ela é essencial para a síntese do colágeno, uma proteína que compõe a substância intercelular desses tecidos, bem como envolve os capilares. A deficiência de vitamina C pode resultar em tecidos fracos e sangramentos na pele, gengivas, articulações e perda de dentes, caracterizando a doença do escorbuto. Alimentos ricos em vitamina C incluem acerola, kiwi, goiaba, caju, pimentão, brócolis, couve, tomate, manga, laranja, morango, mamão e várias outras frutas.