Polialelia e grupos sanguíneos

A polialelia genética é um termo usado em biologia para se referir a uma condição genética rara onde uma pessoa tem múltiplos alelos para o mesmo gene. Isso resulta em uma variedade de expressões fenotípicas para o gene, como diferentes características físicas ou diferentes níveis de atividade da proteína codificada pelo gene. A polialelia genética é uma das formas de variabilidade genética que pode afetar a saúde e o bem-estar de uma pessoa, mas também pode ter efeitos positivos, como aumentar a tolerância a determinadas condições ambientais. 

Alelos múltiplos em coelhos


Os genes podem sofrer diversas mutações ao longo do tempo, o que resulta em vários alelos. O alelo original, chamado de selvagem, é o primeiro a aparecer na natureza e pode sofrer duas, três ou mais mutações diferentes, originando múltiplos alelos que influenciam a mesma característica. Este fenômeno é conhecido como polialelia.

A cor da pelagem dos coelhos é um exemplo clássico de polialelia, que é influenciada por quatro alelos. O alelo C+ determina a pelagem selvagem, que é mais comum na natureza e tem um tom marrom-escuro com uma faixa amarela próxima à extremidade, dando aparência castanha à pelagem. Este padrão de pelagem também é conhecido como aguti, que significa "cotia" em tupi, uma referência aos mamíferos roedores com este tipo de pelo. O alelo C sofreu mutações e produziu mais três alelos.

Esses alelos apresentam dominância na seguinte ordem: C+ domina todos os outros alelos; c ch domina c h e c; c h domina c. Essa ordem de dominância de um alelo sobre outro pode ser esquematizada assim:  C+ > C+ Cch > Ch > Ca

Os possíveis fenótipos são: 

Note que a chance de haver um coelho albino na natureza é muito pequena, pois o fenótipo albino preicsa de homozigoze recessiva. Enquanto que a o tipo selvagem é o mais comum na natureza, pois sempre que haver alelo dominante a pelagem será do tipo selvagem. Portanto, os coelhos brancos, albinos, que costumamos ver nas vitrines das lojas de petshop são coelhos genéticamente manipulados, com intensão de gerar o fenótipo albino.

Sistema ABO de grupos sanguíneos


Quando uma  molécula ou organismo entra no corpo os aglutinogênios (proteínas, glicoproteínas ou polissacarídeos) na superfície da hemácia reconhecem estes corpos como antígenos (corpo estranho),  então os atíngenos emitem um sinal químico que se deslocam até o sistema himunológica. Este por sua vez desencadeia a produção de proteínas conhecidas como anticorpos, que neutralizam os antígenos. Os anticorpos são específicos, o que significa que para cada tipo de antígeno é produzido específicamente para um tipo de anticorpo com forma complementar ao antígeno. A partir do momento que um anticorpo é produzido ele irá permanecer "pronto" no sistema imunolégico, assim caso o mesmo antígeno venha a contaminar o corpo novamente a resposta do sistema imune será mais rápida. Infelizmente nem sempre o anticorpo-específico permanece pronto no sistema imune.  Ele pode ser destruído por reações químicas do próprio corpo geradas por diversas causas, por exemplo o estres. 

Para deixar claro o que é um antígeno, leia com calma e atenção: a palavra "antígeno" vem da combinação dos termos gregos "anti" (que significa "contra") e "genein" (que significa "gerar"). A junção dessas duas palavras resultou no termo "antígeno", que é utilizado para se referir a uma substância que é reconhecida pelo sistema imunológico como estranha e que gera uma resposta imunológica. Antígenos podem ser proteínas, polissacarídeos, ácidos nucleicos, bactérias, vírus, grãos de polen, poeiras, ou outras moléculas. 

Os aglutinogênios são moléculas de proteínas, glicoproteínas ou polissacarídeos ligadas à membrana da superficie da hemácia. A presença ou ausência dos aglutinogênios é controlada por três alelos localizados no par de cromossomos nove dos Homo sapiens. A presença destes alelos produzem enzimas que adicionam os aglutinogênios na membrana da hemácia. O alelo A controla a formação do aglutinogênio A, o alelo B controla a formação do aglutinogênio B e o alelo O não forma essas substâncias.

Para deixar claro o que é um aglutinogênio, leia com calma e atenção: um aglutinogênio são proteínas ou glicoproteínas ou polissacarídeos presente na superfície das hemácias. Existem dois tipos de aglutinogênios, A e B, que são determinados geneticamente e que podem ser encontrados em diferentes combinações nos glóbulos vermelhos de diferentes indivíduos. A ausência de aglutinogênio na hemácia é reconhecida como grupo sanaguíneo O.  

A espécie humana apresenta quatro grupos sanguíneos do sistema ABO: A, B, AB e O, que são determinados pela presença de antígenos específicos na membrana das hemácias. Pessoas do grupo A apresentam o aglutinogênio A, enquanto as do grupo B possuem o aglutinogênio B. Indivíduos do grupo AB possuem ambos os aglutinogênios e as do grupo O não apresentam nenhum dos dois. Embora o grupo O seja conhecido como "grupo zero" devido à ausência de antígenos A ou B, é mais comum usar a letra "O".

Os alelos A e B são dominantes em relação a O. Portanto, indivíduos com genótipos AA e Ao apresentam o aglutinogênio A, enquanto aqueles com genótipos BB e Bb apresentam o aglutinogênio B. Indivíduos OO não possuem nenhum dos dois aglutinogênios. Entre os alelos A e B há codominância, resultando na aparição de ambas as substâncias.

Além dos aglutinogênios presentes na superficie das hemácias, ha anticorpos livres no plasma sanguíneo, estes são denominados de aglutinina ou isoglutininas. 

Durante a gestação, a criança está protegida pelo sangue da mãe e, por isso, não precisa produzir aglutinogênios por conta própria. A formação dos aglutinogênios acontece logo após o nascimento devido à exposição natural aos antígenos. Desta forma, após o nascimento, uma criança do grupo sanguíneo O produz os anticorpos anti-A e anti-B, pois ambos os antígenos A e B são estranhos ao seu patrimônio químico. Por sua vez, uma criança do grupo sanguíneo A produz anti-B e uma criança do grupo sanguíneo B produz anti-A. Por outro lado, o corpo de crianças do grupo sanguíneo AB não reconhece a presença dos antígenos bacterianos e, portanto, não forma anticorpos contra eles. 

Teste para determinar o grupo sanguíneo


O teste para determinar o grupo sanguíneo de uma pessoa é realizado por profissionais de saúde em hospitais ou laboratórios. O procedimento envolve a colocação de duas gotas de sangue em extremidades opostas de uma lâmina de microscopia e a adição de gotas de soro anti-A e anti-B, respectivamente. 

Ao misturar o soro com a gota de sangue, pode-se ver se há aglutinação das hemácias. Se o sangue possuir os dois antígenos (A e B), haverá aglutinação em ambas as extremidades. Se possuir somente o antígeno A, haverá aglutinação somente no soro anti-A. Se possuir somente o antígeno B, haverá aglutinação somente no soro anti-B. Se não houver aglutinação em nenhuma extremidade, significa que o sangue é do tipo O e não possui nenhum antígeno. 

Transfusão de sangue


A realização de testes de tipagem sanguínea é crucial para garantir a segurança de transfusões de sangue, que são necessárias quando o organismo de um paciente não é incapaz de repor sozinho a quantidade de sangue perdida.

Os componentes do sangue doado, como o concentrado de hemácias, plasma, concentrado de plaquetas, etc., são selecionados com base nas necessidades específicas do paciente. Por exemplo, o concentrado de hemácias é usado em casos de anemia ou hemorragia aguda, enquanto o plasma é utilizado em situações de deficiência de fatores de coagulação. A equipe médica avalia cuidadosamente as condições do paciente para determinar o melhor tipo de transfusão. A transfusão de sangue total é uma opção de uso restrito. Se necessário, o sangue pode ser reconstituído a partir de outros componentes.

Antes da transfusão, é importante verificar a compatibilidade sanguínea entre o doador e o receptor, bem como investigar a presença de anticorpos contra os antígenos presentes no sangue do doador. Para isso, é feita a mistura do soro do receptor com as hemácias do doador.

Se uma pessoa do grupo sanguíneo A for submetida a uma transfusão de sangue proveniente de uma pessoa do grupo B, poderão ocorrer graves problemas devido à incompatibilidade dos tipos sanguíneos. As hemácias do doador do grupo A serão atacadas pelos anticorpos presentes no plasma do receptor do grupo B, o que pode resultar em aglutinação das hemácias e obstrução de pequenos vasos sanguíneos. Além disso, a destruição dessas hemácias por glóbulos brancos pode causar liberação de produtos tóxicos e prejudicar a função renal, o que pode levar a sérios problemas de saúde, incluindo reações alérgicas e até mesmo a morte. O mesmo risco é válido para uma transfusão de sangue do grupo B para uma pessoa do grupo A.

O sangue tipo O, sem aglutinogênios A ou B nas hemácias, é conhecido como o doador universal. Isso significa que o concentrado de hemácias pode ser doado a pessoas com sangue A, B, AB ou O. No entanto, a pessoa geralmente recebe sangue do mesmo tipo que o seu. É importante mencionar que o uso do sangue tipo O em pacientes de outros grupos sanguíneos só é indicado em casos de emergência.

Por outro lado, pessoas com sangue tipo AB, sem aglutininas anti-A ou anti-B no plasma, são consideradas receptores universais, pois podem aceitar transfusões de hemácias de qualquer tipo.

Na solução de problemas de compatibilidade sanguínea para transfusões, é comum entender que o sangue tipo O é um doador universal e o tipo AB é um receptor universal, desde que se refira à transfusão de hemácias, e não de plasma. O esquema abaixo resume todas as possibilidade de doação e recepção de hemácias.

Sistema Rh de grupos sanguíneos

O sistema Rh é uma classificação de grupos sanguíneos que se baseia na presença ou ausência do antígeno Rh nas hemácias. Cerca de 85% das pessoas possuem esse antígeno, sendo classificadas como Rh positivas (Rh+), enquanto aquelas que não têm esse antígeno são Rh negativas (Rh-). A presença ou ausência do antígeno Rh é determinada por um par de alelos heterozigoto. Em geral, os indivíduos Rh negativos não possuem anticorpos contra o antígeno Rh positivo, mas podem produzi-los em casos de transfusões ou durante a gravidez e o parto. 

O sistema Rh (Rhesus), é outro sistema de classificação de grupos sanguíneos. Cerca de 85% das pessoas possuem o antígeno Rh nas suas hemácias, são consideradas Rh positivas (Rh+) e aquelas sem o antígeno são Rh negativas (Rh-). Embora vários alelos influenciem na herança do fator Rh, para fins de compatibilidade de grupos sanguíneos, considera-se apenas um par de alelos: D (dominante, apresenta o antígeno) e d (recessivo).

As transfusões sanguíneas mostram que uma pessoa Rh positiva pode receber sangue tanto Rh positivo quanto negativo, enquanto uma pessoa Rh negativa deve receber apenas sangue Rh negativo. Por isso, o doador universal de hemácias é O Rh- e o receptor universal de hemácias é AB Rh+. No entanto, em situações de emergência, é possível transfundir hemácias Rh positivo para pacientes Rh negativos.

Em caso de gravidez, se uma mulher Rh- tem um filho com um homem Rh+, os filhos podem ser tanto Rh+ quanto Rh-, dependendo da genética do pai. Se ocorrer uma incompatibilidade sanguínea, a eritroblastose fetal (ou doença hemolítica do recém-nascido) pode afetar o filho. Quando a gestação é a primeira, geralmente, não há problemas, mas na segunda, os anticorpos da mãe podem atravessar a placenta e causar aglutinação das hemácias do feto, o que pode resultar em anemia e icterícia. Além disso, pode levar a surdez, deficiência mental e a destruição das hemácias do feto e recém-nascido, fazendo com que os órgãos produtores de sangue liberem hemácias ainda jovens (eritroblastos) na circulação, o que é a base para o nome da doença.

Em casos graves, pode ocorrer aborto involuntário. No entanto, se a criança nascer, é possível salvá-la através da troca gradual de seu sangue por sangue Rh negativo, evitando que as hemácias Rh negativas sejam destruídas. Com o tempo, as hemácias Rh negativas serão substituídas naturalmente pelas hemácias Rh positivas da própria criança, e os anticorpos anti-Rh da mãe que passaram para a criança já terão sido eliminados.

Para prevenir a eritroblastose fetal, a mãe Rh negativo deve receber uma aplicação de anticorpos anti-Rh até três dias após o parto da primeira criança Rh positiva (ou entre a 28ª e 30ª semana de gestação). Esses anticorpos, provenientes do plasma de pessoas Rh negativas sensibilizadas, destróem as hemácias Rh positivas deixadas pelo feto no sangue da mãe, impedindo o desencadeamento da produção de anticorpos maternos.

Com o tempo, esses anticorpos são eliminados, permitindo que a mulher tenha uma nova gravidez sem problemas. Se a segunda criança for Rh positiva, o tratamento deve ser repetido para prevenir complicações na gravidez subsequente, já que durante o parto a criança pode liberar hemácias com antígenos no sangue materno.

Se a mãe é Rh positiva e o filho é Rh negativo, não há problemas para a mãe, pois a produção de anticorpos pela criança só ocorre cerca de seis meses após o nascimento.