A evolução humana 

O Homo sapiens é a espécie de hominídeo mais recente em termos evolutivos, a qual pertencemos como seres humanos. Acredita-se que nossa espécie tenha surgido há cerca de 300 mil anos atrás, na África Oriental. A origem exata do Homo sapiens ainda é um tema de intenso debate entre os cientistas, mas a teoria mais aceita é que evoluímos a partir de uma espécie de hominídeo anterior chamada Homo heidelbergensis. Os primeiros fósseis de Homo sapiens foram encontrados na região da Etiópia, e desde então, evidências arqueológicas têm demonstrado que a espécie se espalhou para outras partes do mundo ao longo do tempo. O desenvolvimento de ferramentas mais avançadas, como lanças e arcos, e a habilidade de comunicar e cooperar em grupos maiores foram alguns dos fatores que ajudaram os Homo sapiens a se estabelecer e prosperar em diversos ambientes ecológicos.

Uma breve história da geologia da terra

Antes de iniciarmos a história da evolução humana, vamos entender um pouco sobre a formação geológica da terra no tempo e associar com o surgimento dos seres vivos em cada ocasião. Note que uma característica de uma espécie mais recente provem de uma mais antiga. 

Para facilitar o estudo da evolução da vida, costuma-se dividir a história da Terra em éons, eras, períodos e épocas. A primeira era geológica corresponde à atual, retrocedendo-se até a época em que a Terra se formou, o Pré-Cambriano.

as eras Proterozoico, Arqueano e Hadeano são reunidos na divisão conhecida como Pré-Cambriano. O Hadeano é uma classificação informal, não sendo reconhecida oficialmente pelos paleontólogos. Para entender melhor como são reconhecido os períodos de formação da terra e surgimento da vida confira este site.  Embaixo da crosta terrestre há uma camada chamada manto, com cerca de 2.900 quilômetros de espessura. O manto possui partes líquidas, formadas por rochas derretidas. O calor que vem do núcleo da Terra provoca correntes que movimentam lentamente as placas da crosta. Essas e outras informações são explicadas pela teoria da Tectônica de Placas, que além do movimento dos continentes, explica o maior número de vulcões e terremotos em certos locais da Terra, a presença de fósseis e rochas semelhantes em continentes diferentes, entre vários outros fatos.

Os primeiros organismos eucarióticos unicelulares se originaram a partir de procariontes entre 2,1 bilhões e 1,6 bilhões de anos atrás. Grupos de células que formavam colônias de protistas no passado podem ter dado origem a seres pluricelulares, como plantas, fungos e animais.

Os mais antigos fósseis de organismos pluricelulares com tecidos e órgãos, mas sem partes duras (esqueletos), aparecem no Pré-Cambriano, entre 635 milhões e 542 milhões de anos atrás. No período Ordoviciano, foram encontrados fósseis de esporos de plantas sem vasos condutores de seiva, como as briófitas, que evoluíram a partir de algas verdes e colonizaram o ambiente terrestre.

No Siluriano, as primeiras plantas vasculares apareceram e se diversificaram, e as primeiras plantas com sementes surgiram no Devoniano. Os artrópodes foram os primeiros animais invertebrados a conquistar a terra, após o estabelecimento de algumas plantas no ambiente terrestre. Os insetos, com o maior número de espécies descritas, datam do Devoniano.

Fósseis de peixes sem maxilas e nadadeiras, chamados ostracodermos, foram encontrados no Devoniano, enquanto os primeiros peixes com maxilas, os placodermos, surgiram no Siluriano. A diversificação e a expansão de peixes como os condrictes e os osteíctes pelo ambiente aquático ocorreu no Devoniano, período em que surgiram também os primeiros anfíbios.

Os ancestrais dos anfíbios surgiram a partir de peixes com nadadeiras musculosas e uma estrutura óssea semelhante à dos membros dos vertebrados terrestres, que poderiam ser usados para locomoção no ambiente terrestre, juntamente com um pulmão primitivo, além das brânquias, que permitiram sua invasão do ambiente terrestre. Esse processo evolutivo ocorreu entre cerca de 385 milhões e 360 milhões de anos atrás.

No Carbonífero, as plantas vasculares e sem sementes, como as pteridófitas, formaram grandes florestas, que chegavam a ter muitos metros de altura. Os fósseis dessas florestas formaram depósitos de carvão, que ainda hoje são utilizados como combustível. No fim do Permiano, ocorreu a maior extinção em massa da história do planeta, com cerca de 90% das espécies marinhas, 70% dos animais terrestres e a maioria das plantas desaparecendo.

Durante o início da Era Mesozoica, houve um aumento no nível dos oceanos e um aumento na temperatura, levando a uma diversificação de répteis. No final do Triássico, surgiram os primeiros dinossauros e, no Jurássico, os maiores dinossauros de todos os tempos apareceram. O Cretáceo trouxe o surgimento de grandes carnívoros, incluindo o famoso tiranossauro. Neste período, também surgiram os primeiros répteis, descendentes dos ancestrais dos atuais anfíbios.

Os répteis foram capazes de dominar durante o período Permiano, que era frio e seco. Eles se adaptaram a essas condições, desenvolvendo pulmões eficientes com dobras que aumentaram a superfície de contato com o oxigênio. Sua pele impermeável também ajudou a minimizar a perda de água. Além disso, a fecundação interna e o ovo com casca forneceram proteção, suporte e alimento ao embrião.

Uma grande extinção em massa ocorreu no final do Cretáceo, eliminando cerca de 85% das espécies, incluindo várias espécies de invertebrados, algas e répteis, como os dinossauros. A queda de um asteroide com cerca de 10 km de diâmetro é uma das teorias mais aceitas para essa extinção, mas estudos indicam que erupções vulcânicas também podem ter sido a causa.

Durante o Carbonífero, as primeiras plantas com sementes surgiram e se diversificaram na Era Mesozoica. As plantas se adaptaram aos climas mais secos dessa era, produzindo grãos de pólen que são transportados pelo vento. As angiospermas surgiram no Cretáceo, dominando o ambiente terrestre até hoje, graças a suas flores, polinização por insetos, adaptação a vários climas e presença de frutos.

Os dinossauros bípedes, carnívoros e com penas deram origem às aves, como evidenciado pelos fósseis, como o Sinornithosaurus millenii, o Sinosauropteryx e o Protarchaeopteryx. Embora as penas não permitissem o voo, ajudavam a reter o calor corporal. O Archaeopteryx, com cerca de 150 milhões de anos, possuía penas e um esqueleto semelhante ao dos dinossauros terópodes, dentes e uma longa cauda.

Os primeiros mamíferos surgiram no final do Triássico a partir de um grupo de répteis chamado terapsidas. Eram pequenos, alimentavam-se de insetos e tinham hábitos noturnos. Somente após a extinção dos dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos, os mamíferos puderam se espalhar pelos mais variados ambientes.

A origem do Homo sapiens

Chimpanzés, gorilas e orangotangos são nossos parentes evolutivos mais próximos e pertencem à ordem dos primatas (Primates). Antigamente, eram classificados na família dos pongídeos, mas hoje são classificados na família dos hominídeos (Hominidae), juntamente com os seres humanos.

Uma das diferenças mais significativas entre os seres humanos e outros primatas é a nossa capacidade única de caminhar e se apoiar apenas nos membros posteriores. Gorilas, chimpanzés e outros símios não conseguem andar sobre dois pés por longos períodos de tempo. Essa habilidade deixou nossas mãos livres para segurar e manipular objetos, como alimentos, filhos e instrumentos.

Ainda não sabemos ao certo por que os seres humanos evoluíram para a postura ereta, mas uma hipótese é que o grupo de primatas que deu origem à nossa espécie tenha deixado a floresta e passado a viver em campos ou savanas africanas. A postura ereta pode ter ajudado na corrida nessas áreas e deixado as mãos livres para carregar e manipular alimentos. Além disso, pode ter permitido a observação de presas e predadores à distância por cima da grama alta. Estudos também mostram que a postura ereta proporciona economia de energia no deslocamento.

Acredita-se que a inteligência humana tenha se desenvolvido devido à nossa capacidade de manejar ferramentas e objetos, como uma adaptação à caça nas savanas africanas. No entanto, isso ainda é objeto de discussão. O volume médio do crânio humano é de 1.350 cm3, enquanto que o chimpanzé chega a, no máximo, 500 cm3 e o gorila, apesar de seu tamanho, chega a, no máximo, 750 cm3. Além disso, as circunvoluções do córtex cerebral humano são mais desenvolvidas, o que aumenta significativamente a área dessa parte do cérebro envolvida em funções como o raciocínio e a linguagem. Na figura abaixo note as diferenças na forma e no tamanho da caixa crâniana entre o gorila (filogenéticamente mais antigo), chipanzé (filogenéticamente intermediário) e ser humano (filogenéticamente mais recente). No esquema abaixo esta representado a filogenia do ser humano a partir dos Catarrhini, um grupo pertencente a ordem do primatas com as narinas são protuberantes em relação a face.

Australopithecus

A linhagem dos hominídeos tem possíveis ancestrais, como os australopitecos, que pertencem ao gênero Australopithecus, apelidado de “macaco do sul”. Esses ancestrais habitaram as savanas africanas de 4,2 a 1,4 milhões de anos atrás e apresentavam altura entre 1 m e 1,5 m, pesando de 30 kg a 50 kg. Seu crânio era semelhante ao do chimpanzé. Estudos sobre a posição dos ossos da bacia, do joelho e das pegadas indicam que eles tinham postura ereta e caminhavam sobre duas pernas (bipedalismo).

Em 1974, foi encontrado um fóssil na Etiópia, com cerca de 3,20 milhões de anos, que possivelmente pertencia a uma fêmea da espécie Australopithecus afarensis, com 30 kg de peso, 1,07 m de altura e crânio de 420 cm3, que recebeu o nome de Lucy. Essa espécie viveu entre 3,8 milhões e 2,9 milhões de anos atrás, apresentando crânio de 375 cm3 a 550 cm3, semelhante ao do chimpanzé, mas com dentes e ossos da perna parecidos com os da espécie humana. Pegadas preservadas em cinzas vulcânicas confirmam que tinham postura ereta.

Outros fósseis ainda mais antigos foram descobertos, como o Ardipithecus ramidus, com 4,3 a 4,5 milhões de anos; o Australopithecus anamensis, de 4,1 a 4,2 milhões de anos; o Orrorin tugenensis, com 6 milhões a 5,8 milhões de anos; e o Sahelanthropus tchadensis, com cerca de 7 milhões de anos, que possivelmente é o mais próximo do antepassado comum entre chimpanzés e humanos.

O Ardipithecus ramidus apresentava altura de cerca de 1,20 m, capacidade craniana semelhante à do chimpanzé, caninos superiores menores do que os dos chimpanzés atuais e mais parecidos com os dos humanos. Sua anatomia da pélvis e das mãos sugerem que ele poderia andar ereto por distâncias curtas, mas não tão bem quanto os australopitecos. Ele também possuía dedão do pé oposto aos outros dedos e ossos longos dos dedos, indicando que passava parte do tempo se deslocando nas árvores.

Entre 3 milhões a 2,2 milhões de anos atrás, surgiram outras espécies de australopitecos, como o Australopithecus africanus, o Australopithecus garhi e o Australopithecus robustus (posteriormente classificado em outro gênero, chamado de Paranthropus robustus).

O gênero Homo

As evidencias sugerem que os primeiros representantes do gênero Homo tenham surgido a partir dos australopitecos, apresentando corpos e cérebros maiores. Entre eles, destaca-se o Homo habilis, que foi o primeiro a fabricar ferramentas de pedra lascada para cortar a carne de animais e cujo cérebro era maior que o dos australopitecos. Ele viveu entre 2,4 milhões e 4 milhões de anos atrás, com um volume craniano variando de 500 cm3 a 670 cm3.

Apesar de ter surgido depois do Homo habilis, o Homo erectus foi descoberto antes e considerado na época o primeiro hominídeo ereto. Essa espécie perdurou por mais de um milhão de anos, tendo vivido entre 1,8 milhão e 500 mil anos atrás. Durante esse período, seu crânio aumentou de tamanho, passando de 800 cm3 para mais de 1 300 cm3. O Homo erectus também foi o primeiro ancestral distante a dominar e usar o fogo, o que deve ter facilitado sua capacidade de migração. Ele foi encontrado na Ásia e na Europa, enquanto os australopitecos e o Homo habilis foram encontrados apenas na África.

As ferramentas utilizadas pelo Homo erectus eram mais complexas que as anteriores, sugerindo que eram presas a pedaços de pau para formar uma espécie de machado. O Homo erectus também caçava em bandos.

A partir de 500 mil anos atrás, fósseis com crânios maiores que os do Homo erectus e menores que os da espécie humana atual foram encontrados. Eles foram classificados como formas muito antigas do Homo sapiens.

Entre 230 mil e 30 mil anos atrás, viveu outro hominídeo conhecido como o homem de Neanderthal, que é classificado como uma espécie diferente, a Homo neanderthalensis. Seu cérebro era maior que o da espécie humana atual em média, com 1 450 cm3 contra 1 350 cm3, mas essa diferença pode estar relacionada à sua forma mais robusta. O homem de Neanderthal fabricava ferramentas e armas mais desenvolvidas que as do Homo erectus, utilizava lanças de madeira, morava em cavernas e abatia animais de grande porte. Além disso, havia evidências de que enterrava seus mortos e colocava flores nos túmulos.

O homem de Neanderthal se extinguiu há cerca de 30 mil anos, possivelmente por causa da competição com o Homo sapiens, que pode ter surgido do Homo erectus entre 200 mil e 150 mil anos atrás. O fóssil mais conhecido da espécie Homo sapiens é o homem de Cro-Magnon, que fabricava ótimas ferramentas e tinha habilidades artísticas. Foram encontradas em cavernas pinturas que retratam diversas cenas de caça.

Há cerca de 12 mil anos, a humanidade evoluiu de caçadora para agricultora, dando origem às primeiras civilizações. A partir desse momento, a evolução cultural impulsionou de maneira significativa as transformações humanas. Ao comparar as mudanças ocorridas nos últimos 10 mil anos com a evolução lenta que ocorreu do australopiteco ao Homo sapiens, podemos avaliar a velocidade desse desenvolvimento cultural.

Os textos e ilustrações utilizadas são resumos que extraem informações primordiais e cruas sobre o contexto proposto. Sugiro que leia os livros "A origem do homem e a seleção sexual" de Charles Darwin e o livro "Cro-Magnon: a historia e o legado dos primeiros seres humanos" de Charles Rivers. Existem muitos outros texto que falam sobre a origem do Homo sapiens, penso que este dois livros citados seja um bom começo.